FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA KARL MARX
A DIALÉTICA MARXISTA
Para
Cotrim; Fernandes (2010) Karl Marx é provavelmente um dos pensadores que maior
influência exerceu sobre a filosofia contemporânea. Sua importância está
destacada na afirmação do pensador francês Raymond Aron de que se a grandeza de
um filósofo fosse medida pelos debates que suscitou, nenhum deles, nos últimos
séculos, poderia ser comparado a Karl Marx. Nos tempos da universidade, Marx
revelou entusiasmo pelo estudo do direito, da filosofia e da história. Formado
em filosofia no círculo do idealismo alemão, tentou seguir a carreira
universitária como professor, mas não conseguiu seu intento devido a questões
políticas. Em 1844 conheceu Friedrich Engels (1820-1895) em Paris, e ambos se
tornaram amigos inseparáveis por toda a vida. Em 1848, lançaram o celebre Manifesto comunista. Seguindo o lema de
que a filosofia deve ser também prática, participaram juntos de diversas
atividades políticas e escreveram várias obras, que lhes custaram duras
perseguições dos governos constituídos. O conjunto de suas ideias foi depois
interpretado e desenvolvido por outros pensadores, ficando conhecido com
marxismo.
No
entanto, para o entendimento do ponto de partida filosófico de Marx, nada é tão
imprescindível como o esclarecimento de sua relação com Hegel. O traço principal
da relação com Hegel pode ser assim caracterizado de forma bem simples: Marx
mantém a dialética hegeliana como método; mas ele a preenche com um conteúdo
exatamente oposto ao de Hegel, girando-a 180 graus; na perspectiva de Marx,
somente desta maneira ela pode ser corrigida. O que significa isso?
Marx
vê na dialética um princípio revolucionário. O seu pensamento fundamental é o
de que o mundo não é um complexo de coisas prontas, mas de processos. Não há
nada definitivo e absoluto. Existe apenas o incessante processo do vir-a-ser e
extinguir-se. Marx fez uma crítica radical ao idealismo hegeliano, na qual
afirma que Hegel inverte a relação entre o que é determinante – a realidade
material – e o que é determinado - as representações e conceitos acerca dessa
realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande mistificação que
pretende entender o mundo real, concreto, como manifestação de uma razão
absoluta. Marx procurou, portanto, compreender a história real dos seres
humanos em sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem.
Essa visão da história foi chamada posteriormente por Engels de materialismo histórico.
O que significa,
pois o materialismo dialético à vida social? Lênin afirma: “Se o materialismo
esclarece, de fato, a consciência mediante o ser, e não o inverso, ele, em sua
aplicação à vida social do ser
humano, exige assim o esclarecimento da consciência social mediante o ser social.” Quer dizer: para o
materialismo, a matéria é o único real. A consciência pensante é apenas um
espelho da realidade. De modo semelhante, na vida social o ser social tem de
ser o único real. A consciência social – ideias, teorias, concepções, etc – é
apenas um reflexo dessa realidade. Portanto, para se conhecer as forças
propulsoras na vida social, não se deve atentar para as teorias. Elas são
apenas reflexo, a “superestrutura ideológica” da realidade. Tem-se de procurar
pela base material da vida social. O modo de pensar das pessoas está em
conformidade com o seu modo de viver (STÖRIG, 2009, p.430).
Na
descrição realizada por D’Angelo (2011, p.14) o materialismo dialético é
considerado a filosofia do marxismo,
distinguindo-se do materialismo histórico, que seria a ciência marxista. Enquanto visão de mundo o materialismo dialético
seria – como admite Engels no prefácio da segunda edição do Anti-Düring – um corpo teórico
considerado como verdadeiro em relação à realidade como um todo, uma espécie de
filosofia natural que generaliza as descobertas das ciências específicas. As
teorizações fundamentais do materialismo dialético são apresentadas por Marx e
Engels como leis gerais que governam a natureza, a sociedade e o pensamento.
Enquanto teoria o materialismo dialético se apresenta amparado cognitivamente
pela cientificidade do materialismo histórico. Tratava-se, no contexto do
século XIX, de reivindicar o mesmo rigor desfrutado pelas demais ciências e, ao
mesmo tempo, contrapor-se a outras teorias, como a de Düring, e a grupos
políticos que reivindicavam essa cientificidade. A combinação do materialismo
com a dialética resultou na modificação de ambas. Nesse caso o material e o
ideal são opostos, porém fazem parte de uma unidade na qual a matéria é
essencial, pois pode existir matéria sem espírito, mas o inverso não é
possível.
Segundo
Marx, caberia à classe social que possui, nesse momento, um caráter
revolucionário intervir por meio de ações concretas, práticas, para que essas
transformações ocorram. Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do
feudalismo ao capitalismo, com as revoluções burguesas. O filósofo sintetiza
essa análise na afirmação de que a luta
de classes é o motor da história, isto é, a luta de classes faz a história
se mover. Por isso, no Manifesto comunista (1848), ele afirma que a história de
todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas
de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de
corporação e aprendiz; numa palavra, opressores e oprimidos, em constante
oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma
guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da
sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.
Comentários
Postar um comentário