Filosofia Contemporânea: Jean Paul Sartre







Sartre foi romancista, dramaturgo, contista, ensaísta, filósofo, político, um homem de muitas facetas. Alguns biógrafos assinalam que para experimentar, viver e agir no seu tempo, Sartre utilizou todos os meios que pôde. Uma classificação formal teria de descrevê-lo simultaneamente como um filósofo, um ficcionista, um autor dramático, um crítico literário, um argumentista para cinema, um jornalista e um panfletário político com aparentes e permanentes aspirações a ser também um sociólogo e um psicanalista (MACIEL, 1975, p.12).

Sartre foi profundamente influenciado pelo seu contexto histórico, por isso, tornou-se um pensador e ao mesmo tempo um ativista político. Segundo Cotrim (2010) Jean Paul Sartre recebeu significativa influência filosófica de Heidegger. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, participou da luta da resistência francesa contra o nazismo. Também aderiu ao marxismo, considerando-o a filosofia da época, embora, diante da intervenção soviética na Hungria, em 1956, tenha rompido com o Partido Comunista, acusando-o de se desviar do sentido autêntico do marxismo. Sartre tornou-se o filósofo mais conhecido da corrente existencialista. No entanto, grande parte de sua fama deve-se não propriamente à sua obra filosófica, mas às suas peças de teatro e romances, dentre os quais se destacam A náusea, O muro, A idade da razão, O diabo e o bom Deus.

O termo existencialismo não designa um sistema filosófico concreto. Poderia reserva-se este nome, e seria conveniente aplicá-lo à filosofia de Sartre, porém, quando aplicamos tão conceito à filosofia de Gabriel Marcel, que depois de falar por muito tempo que era existencialista, acabou por repudiar esse título (COPLESTON, 1959, p.195).


O homem nauseado
Jean Paul Sartre (1986, p.7) inicia a sua obra A náusea com a seguinte epígrafe: “É um rapaz sem importância coletiva; é apenas um indivíduo”. Nessa expressão já vem embutido o sentido da existência humana – da existência concreta, apanhada em seu viver cotidiano, destituída de qualquer realce especial, desprovido, até mesmo de significado coletivo (BORNHEIM, 1984, p.16). Para Sartre, a primeira experiência que tem grande valor como revelação existencial é a descoberta da náusea.
Segundo Souza (2004) a náusea se revela, como parte constitutiva daquilo que o homem é, e não sendo mais algo que se acrescenta a ele. A existência para Sartre é um absurdo. Por isso, conclui que a vida, o homem é uma “paixão inútil” (SARTRE, 1997, p.750). a partir dessas colocações, ele afirma o absurdo da existência como vemos a seguir: e sem formular claramente nada, compreendi, a chave de minhas náuseas, de minha própria vida. De fato, tudo o que pude captar, liga-se a esse absurdo fundamental. Um gesto, um acontecimento no pequeno mundo dos homens sempre é apenas relativamente absurdo: em relação às circunstâncias que o acompanham. Os discursos de um louco, por exemplo, são absurdo: em relação à situação em que este se encontra, mas não em relação ao seu delírio. E acrescenta, o mundo das explicações e das razões não é o da existência. A razão não oferece a base para explicar o mundo humano, a existência é náusea, é absurdo. Mas como pode ser superado essa dimensão de vazio? Sartre nos mostra que o homem é um projeto, para isso, recorre à ontologia.
Liberdade - uma das condições fundamentais da existência humana é a liberdade. Por isso, no homem a existência precede a essência, ele se faz, se projeta.  Não tem o homem, pois, uma natureza dada previamente, não se define antes de existir, mas sua definição, o que ele é, a sua essência, será o que ele fizer, será o que ele construir, existindo.
Eis, pois, o significado de, no homem,diz Sartre (1978) a existência preceder a essência: significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem tal como concebe o existencialista, não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para conceber. O homem é apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se deseja após este impulso para a existência, o homem não é mais que o que ele faz.
Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza dada e imutável; por outras, não há determinismo, o homem é liberdade, vocifera Sartre (1978). Portanto, não há mais desculpas ou justificações. O homem sartreano não tem escolha porque está condenado a existir para além de sua essência. Condenado porque não se criou a si próprio, e no entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo quanto fizer.
Segundo Sartre (1999) o homem é condenado a ser livre porque a liberdade não é uma qualidade que o homem adquire. Ele é livre, faça o que fizer. Lançando-se no mundo, o homem define-se pouco a pouco, tenta uma definição que, de resto, fica sempre incompleta e aberta. Podemos sempre escolher a possibilidade, o modo ou a maneira de viver a nossa existência.
No sentido existencialista, ao afirmar a máxima de que “o homem está condenado a ser livre”, faz-se necessário que o homem deva assumir as próprias escolhas para ser responsável pela sua própria condição. Ele tem que tomar decisões relativamente ao itinerário de usa existência e, por isso, se angustia. E está sem amparo, sem âncoras para essa escolha, cada indivíduo é responsável pela sua existência, isto é, tem em suas mãos a vitória ou o fracasso de suas ações. Em Sartre, o indivíduo é livre para construir o seu projeto existencial de seu viver.

O homem é antes de mais nada um projeto que vive subjetivamente (...) nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível, e o homem será antes de mais o que tiver projetado ser (SARTRE, 1978, p. 217).

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